quinta-feira, 14 de abril de 2011

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“Se eu não vou mais ver, quem é que eu vou ser?”
Monólogo interpretado por Eduardo Moscovis reflete sobre o modo de perceber o mundo e de como lidar com momento de mudanças


Gilmara Roberto
Fotos: Mário Souza

Se apresentando em monólogo, o ator Eduardo Moscovis interpretou na última terça-feira, 12 de abril, um personagem que perdeu a visão diante da plateia do Centro Cultural da UFG. A apresentação de “O Livro” foi a primeira atividade do Banquete de Livros, um evento que procurar celebrar o livro de papel, em sua forma e conteúdo, e proporcionar um diálogo artístico sobre o amor ao livro.



O personagem interpretado na peça por Eduardo Moscovis vive diante do público a experiência de perder a visão. Ele sofre de uma doença degenerativa da córnea que recebe como herança genética. Trancado em um quarto até que cegue, o personagem recebe de seu pai um livro envolto em um papel azul-celeste que leva a ele as últimas palavras que poderá ler. Ele, que vive no início do monólogo uma pressa em ler e descobrir a narrativa, vai aprendendo com o decorrer da peça a textura das palavras: alguns substantivos o encantam e ele usa do papel que compõe o cenário para moldar algo como um bumerangue ou um papagaio. O personagem vai, então, tateando as palavras e construindo um novo modo de percepção de mundo.

A peça que é dirigida por Christiane Jatahy é composta e interpretada segundo um perspectiva hipertextual: o fim da visão representa o início da peça e o fim da peça representa o começo de uma fase de cegueira; Eduardo Moscovis hora interpreta o personagem que perderá a visão, hora fala como o ator que recebe esse papel para interpretar; o texto é, hora do ator, hora do cego. Sobre a interação com o público, a diretora da peça afirmou que o monólogo é o melhor exercício de troca com a plateia: “O teatro precisa ser de fato uma janela para a vida. O objetivo é tornar vivo; fazer com que se renove o olhar sobre a cena”.



Eduardo Moscovis declarou que “a forma como Christiane trabalha a peça me aproxima da plateia e de mim. Ela quebra o lugar do monólogo solo”. O ator explicou ainda a relação que o autor do texto, Newton Moreno, estabelece entre o livro e a cegueira: ele sofre de glaucoma e nunca entendeu porque, logo ele que é tão apaixonado pela literatura e pelos livros, pode sofrer de um distúrbio que provoca a perda gradual da visão. Por isso, a peça busca proporcionar uma reflexão sobre as fases de transição, onde o ser humano é obrigado a aceitar uma nova condição de vida, e não necessariamente sobre a aceitação da cegueira.

A diretora do Centro Editorial e Gráfico da UFG, Maria das Graças Monteiro Castro, lembrou a importância de um evento como o Banquete de Livros para desmistificar o livro. “O livro ainda é muito sacralizado e respeitado. Ele ainda tem um aura muito forte. A nossa ideia é promover o deleite, a celebração em torno do livro”, informou a diretora. As atividades do Banquete se estendem até o dia 15 de abril. Entre as atividades previstas estão previstos debates com escritores e artistas como Roger Mello, Antonio Cicero e Zeca Baleiro, que irá realizar show para o encerramento do evento no Teatro Rio Vermelho.

Fonte: Ascom/UFG

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